Amor Sem Fim
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Com Lucas de Lima

Padre Crispim: Servo de Deus com ginga baiana

Ele dança axé, forró, teve algumas namoradas, ama praia e corre na rua. Você deve estar pensando que eu confundi os entrevistados. Só que não! Estou falando do padre Crispim. Aquele mesmo, da igreja Matriz de Dourados. Nessa entrevista conheci um lado que a gente não espera ver em um padre, mas além disso (e muito mais importante), foi ouvir a história de um homem que estudou e estuda muito, um homem com um coração enorme e com a visão muito clara sobre o propósito de Deus para humanidade.

Olha quem vai estar amanhã no Gente da Cidade!!!! Se surpreenda com a história dele.

Posted by FM Cidade 101 on Quarta, 5 de agosto de 2015

QUEM É ELE?

O nome completo é Crispim Guimarães dos Santos, nasceu no dia 13 de .... ops! Ele para e pensa sobre qual data vai me responder e explica: “É que eu nasci no dia 13 de fevereiro de 1969, mas fui registrado no dia 15. Eu morava na roça e era tudo mais difícil, mas eu comemoro no dia 13, então é dia 13”. Ele nasceu em Euclides da Cunha, na Bahia, onde morava com os pais e os seis irmãos em um sítio. Na roça o trabalho começava cedo, desde os 10 anos Crispim ajudava a plantar milho, feijão e a lidar com gado. Uma vida de muita luta, pois já vivenciou, por exemplo, dois anos de seca, quando a família perdeu boa parte do rebanho, que já era pequeno. Caçula da família, foi o único a ir para a cidade estudar, com 12 anos. Com essa idade também foi feirante. A mãe, católica praticante, sempre levou os filhos à missa. Mas à igreja mais próxima ficava a 12 quilômetros de distância. Problema? Que nada! Lá iam eles, a pé, todos os domingos para a missa. “Essa é a minha melhor lembrança da infância, eu gostava muito de ir à missa. Chegava em casa e vestia um lençol, fazendo de conta que era padre e entregava biscoito, como se fosse o corpo de Cristo”.

JUVENTUDE EM SALVADOR: Praia, namoros...

Na juventude, a vontade de ser padre não era a mesma e aos 16 anos, ele foi para Salvador para continuar os estudos. Lá começou a trabalhar como revendedor de calças. “Ganhei muito dinheiro nessa época, comprei meu primeiro apartamento”. Nesse período ele curtia a vida como qualquer outro jovem. Gostava de praia. “Eu era bem bronzeado, não branquelo como agora (risos)”. E como um bom baiano, não dispensava um carnaval. “Ia em festas, dançava axé, tudo... até hoje gosto de axé, forró”. Me espanto e pergunto: o senhor dança? “Sim! Gosto de Falamansa e danço mesmo”. Hoje em dia as músicas que ele gosta de escutar são das bandas dos anos 80, como Roupa Nova e Kid Abelha, mas se tocar uma Timbalada ele entra no ritmo. Aí não resisti, né gente? Tive que entrar no assunto: E namoro, padre? “Não tenho problema em falar disso, namorei muito, não sei quantas, mas que namorei, namorei”.

VOCAÇÃO

Mesmo nesse período “festeiro”, ele nunca deixou de frequentar as missas. Aos 22 anos foi à um retiro e lá sentiu novamente o chamado. Voltou para a casa da família, no sítio, onde pensou por dois anos. Não teve jeito! A vontade de se dedicar integralmente a Cristo falou mais alto. “Eu me perguntava: o que eu fazia, preenchia minha vida? E a resposta foi não”. Aos 25 anos entrou para o seminário, foram 10 anos estudando, período em que conheceu, entre muitos, os padres Zezinho e Fábio de Melo. Em 21 de agosto de 2004 foi ordenado diácono em Dourados e em dezembro do mesmo ano se tornou padre.

DOURADOS

Padre Crispim veio a Dourados a convite do Bispo Dom Redovino e desde 2013 é Pároco da catedral. “Dourados é minha casa. É de uma riqueza cultural impressionante, é um caldeirão de cultura. E tem um povo muito generoso”.

 

ROTINA DE UM PADRE

Quem pensa que vida de padre é moleza, lê aí. O padre acorda às 6h, faz oração pessoal, oração em conjunto com outro padre, atendimento aos fiéis, missa, almoça, faz mais atendimentos, acompanha os projetos sociais da igreja. Às 17h vai correr ou andar de bicicleta (ele percorre 10 km por dia, acredita?). Faz outra missa. Das 22h a meia noite estuda. É mole?? E tem mais: Em dia de doutorado (ahan, ele é doutorando em psicologia) acorda às 4 da manhã. E ainda está cursando a faculdade de Letras a distância. Ele também tem curso de comunicação social e escreve semanalmente para dois jornais da cidade, além de ter um programa na rádio católica. Ufa! Cansei só de escrever.

SER PADRE

Para o padre Crispim, o melhor de ser padre, é conviver com as pessoas e principalmente ter contato e ajudar as pessoas mais simples. “Nós temos vários projetos sociais. Alguns deles são: auxílio e moradia aos parentes de pessoas que estão hospitalizadas e o Centro de educação para indígenas, onde crianças e adultos aprendem a costurar, têm aulas de informática e reforço escolar”. A parte difícil em ser padre para ele é a forma como as pessoas entendem a religião. “As pessoas procuram a religião como uma troca. Eu faço isso, Deus me dá aquilo. Eu faço isso, a igreja me retribui. E não é nada disso. Quando essa expectativa se frustra, relacionamentos se quebram e isso é muito complicado”.

DESISTIR? JAMAIS!

Questiono se já pensou em desistir, porque queria casar, ou por outro motivo. Ele tem a resposta na ponta da língua: “Nunca! Eu já tive vontade de casar? Sim! Aliás, se alguém quer ser padre, tem que ter vocação para ser marido e ser pai, porque é isso que um padre é. Mas quando penso em qualquer outra coisa, que não seja a dedicação integral a Cristo, nada é maior do que isso”. Mas então, o que sustenta um padre, para ter tanta força de vontade e persistência? “A oração, só a oração me faz viver todos os dias”

PERGUNTAS E RESPOSTAS

O papo estava tão bom, que eu não queria encerrar a entrevista, então fiz algumas perguntas do tipo “jogo rápido” e olha no que deu:

Papa Francisco: “Chegou no momento ideal para somar e para mudar”

Homossexualidade: “Precisamos nos posicionar e posicionamento gera conflitos. A doutrina católica é clara; casamento tem que ser hétero. Mas a pessoa tem que ser respeitada e amada sempre. O Papa já falou que se a pessoa busca Deus com seu coração, quem somos nós para julgá-la?”.

O papel da igreja em Dourados: Ser misericordiosa, acolher os feridos.

O que te deixa triste? “Falta de humanidade”

O que te faz feliz? “Quando uma pessoa melhora”

Futuro: “Não faço planos para o futuro. Isso me dá liberdade. O único desejo que tenho é de um dia morar um tempo em Israel. Mas o meu futuro é de Deus”.

Por Miriam Névola

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