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Com Paulinho Corrêa

Clóvis: Jornalista que se reinventa

Escrever a coluna de hoje é, ao mesmo tempo, fácil e uma tremenda responsabilidade. Fácil porque admiro muito meu entrevistado e “responsa”, pois, foi ele quem me ensinou os primeiros passos do jornalismo. No caminho ao local marcado, fui pensando em como entrevistar um jornalista. Aí me lembrei da primeira lição que ele me deu. Tirou um pedaço de papel (bem pequeno) do bolso, todo rabiscado e uma caneta e disse: “Se você quer ser jornalista sempre tenha isso em mãos”. Pois bem, Clóvis de Oliveira, cá estou eu com papel (maior do que o seu daquele dia) e caneta nas mãos, pronta para anotar a sua história que vai se tornar a partir de agora a “Gente da Cidade”.

Clóvis Pinheiro de Oliveira, nasceu no dia 15 de dezembro de 1959, em Santa Izabel em São Paulo. É o caçula de sete irmãos. Veio para Dourados, com a família, aos sete anos. O pai queria tentar ganhar dinheiro se tornando um produtor de café. Moraram no Panambi, onde Clóvis estudou até a 4ª série. Se mudaram para a cidade depois que a família perdeu a produção em uma geada. A partir da 5ª série, ele estudou no colégio Reis Veloso, que tinha acabado de ser inaugurado. Clóvis foi o único dos irmãos que terminou o ensino médio. E isso, fez toda diferença no futuro da família.
“Sempre gostei de estudar, como todo jornalista, nunca fui bom em exatas, mas amava escrever desde pequeno”.

PAIXÃO PELO RÁDIO
Desde criança gostava de escutar rádio e falava que seria radialista. “Eu pegava aqueles tubinhos de soro e caixa de sapato e fingia que era microfone e as caixas de som”. A primeira vez que trabalhou com jornalismo foi aos 17 anos na Rádio Clube, ele fazia entrevistas de assuntos policiais e esportivos e levava para os locutores lerem. Um dia lhe deram a oportunidade de falar no rádio, foi a primeira e última vez. “O radialista Zé Guerreiro falou: ‘Sai daqui com essa voz de taquara rachada, vai fazer bem o que você sabe, que é escrever’. Ainda bem que ele me mandou pra redação, é onde eu gosto de estar”.

CAÇULA, O CUIDADOR DA FAMÍLIA
Tenho que voltar um pouco no tempo para contar uma parte importante da história do Clóvis. Só o pai trabalhava em casa e a família começou a passar dificuldades. A mãe teve um derrame e perdeu parte dos movimentos do corpo. Para ajudar, Clóvis começou a trabalhar, vendendo doces, entregando jornais, tudo de bicicleta. Até que em 1975, ao chegar em casa, se deparou com uma imagem que jamais esqueceria. O pai se matou. Sem deixar bilhete, até hoje ninguém sabe o motivo. A família se dividiu, alguns irmãos foram embora e a mãe ficou sob seus cuidados.
“Eu, o caçula, me tornei o pai da família. Mas não vejo isso como algo ruim, acredito que a gente não escapa do que pode acontecer. A gente supera. Sempre fui temente a Deus, creio que Ele tem propósito para tudo”.

JORNALISTA

Falar do currículo dele não é simples. Uma lista extensa! Mas vamos lá! Começou no jornal O Progresso em 1978, onde ficou até 1982. Foi demitido, pois se candidatou a vereador. Sim, ele tinha sonho de ser político. “Eu era envolvido no movimento estudantil e achava que ia mudar o mundo”. Com 397 votos, não foi eleito. Foi trabalhar como repórter no jornal O Panorama, onde ficou por dois anos.
Em 1984 foi para Rússia. Ahan!!!! Rússia, meu caro!!! Fazer o quê? Curso de ciência política. Seis meses depois voltou para Dourados com mais garra para se tornar político e ....???? Mudar o mundo!

Clóvis em sua viagem na Russia, em 1984, junto aos ideólogos marxistas Marx, Engels e Lenin, na praça Vermelha.

Entrou de cabeça no socialismo, ao ponto de andar com foice e martelo pelas ruas. Se candidatou de novo em 1988. Com apenas sete votos a mais do que da vez anterior, não entrou de novo e desistiu da “carreira”. Hoje ele vê política com outros olhos.
“Amadureci. Foi boa aquela fase. Mas em tudo que falhei antes é porque não conhecia a verdade”. Perguntei se ele se desiludiu com a política, respondeu que não. “Me desiludi com a humanidade, para transformar o mundo não precisa do socialismo, precisa de pessoas que sejam instrumentos de Deus”.
Ah!! Logo que voltou da Rússia, se casou e teve dois filhos, que hoje tem 26 e 28 anos. (sobre filhos voltamos a falar daqui a pouco).

PIONEIRO NO JORNALISMO PELA NET
Depois da política passou em concurso para ser jornalista da prefeitura, trabalhou em várias redações de jornais e assessorias. “Nesse tempo todo sempre fui dedicado ao jornalismo. Eu gosto 100% do jornalismo. Recomendo a profissão para todos. É a melhor profissão que existe”.
Mas foi em 2000 que sua vida profissional tomou novos rumos. Ele e Primo Fioravante Vicente, criaram o primeiro site de notícias pela internet de Dourados.
“Tive que aprender tudo de novo. A linguagem é diferente, os recursos, tudo novo, uma nova mídia”. Para ele a internet é uma ferramenta maravilhosa, mas também “apequena o jornalismo”. “Ela amplia o acesso à informação, mas prejudica na hora que banaliza a notícia. É muito copia e cola”.
Há quatro anos, fundou um novo site de notícias que também tem versão impressa semanal.

PAI AOS QUASE 60
No título da coluna de hoje falei que ele se reinventa, pois veja se não tenho razão! O cara quer ser radialista, se torna repórter, quer ser político, vai pra Rússia, desiste, aprende tudo de novo por causa da internet..... e não para por aí. Há dois anos, se converteu aos Testemunhas de Jeová, religião apresentada por sua atual esposa, com quem vai ter um filho em novembro. Ufa!!! Calma, vou explicar, por parte! Sim, o socialista virou Testemunha de Jeová e aos quase 60 anos, será pai outra vez.
“Começar de novo! É uma delícia. Estamos ansiosos pela chegada do Benício”.

Clóvis e a família. Esposa Adriana e os filhos Vinicius, Joyce, Lucas e Brenda, antes do Benício.

CLÓVIS, SUA VIDA É NOTÍCIA
Com o Clóvis eu aprendi os primeiros passos do jornalismo, foi ele quem me ensinou o que era LEAD (o começo de toda notícia). Mas hoje, ao fazer essa entrevista, aprendi mais. Aprendi que nunca é tarde para aprender mais e mais. Nunca é tarde para se abrir para uma nova visão de vida. Nunca é tarde para ter filhos. Nunca é tarde para se reinventar.

Para terminar nossa conversa propus duas perguntas com a cara da gente, na linguagem dos jornalistas.

-Qual a manchete que você quer ver um dia?
“Eis um novo mundo!”.
Falo isso baseado em Apocalipse 21:1, que diz: “E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe”.

-Qual o LEAD da sua vida?
“DEUS! No Lead a gente tem que responder, quem, como, onde, por que, não é? A resposta para tudo isso é Deus. Esse é meu Lead!

Por Miriam Névola

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