Top Sertanejo
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Com Paulinho Corrêa

Marília Mendonça é o empoderamento feminino através da música sertaneja

Em uma época onde o culto ao corpo entre os cantores sertanejos é mais importante que a qualidade da música lançada, Marília Mendonça pode ser considerada como a anti-pop star.

Aos 21 anos, a cantora goiana que está bombada no Brasil com o hit Infiel está mais interessada em expressar suas angústias através das músicas que cria do que em publicar fotos no Instagram mostrando o corpão. Com essa maneira de agir, Marília aos poucos influencia o resgate do artista autoral no sertanejo. Nos últimos anos, o estilo viveu basicamente da gravação de músicas que repetiam fórmulas tão desgastadas que era (e ainda é) difícil diferenciar um artista do outro. O que ainda é um pouco piorado pelo fato de todos cantores terem o mesmo visual.

Marília foi na contramão deste movimento, que na maioria das vezes funciona como um leilão, onde o artista com maior poder aquisitivo compra a exclusividade das músicas com maior potencial de sucesso. E, apesar de jovem, a cantora também soube como criar identificação com um público feminino de classe média e baixa. Talvez nisso resida o principal trunfo da sertaneja.

Suas letras tratam sobre o empoderamento feminino de jovens do interior e da periferia. Temas como traições e até mesmo relacionamento com homens casados fazem parte do segundo disco de Marília, Infiel. Uma postura corajosa, principalmente para quem está inserida em um gênero predominantemente masculino e machista. "Você tem que aceitar que elas vieram pra ficar e vão te arrastar, seu copo ela vai virar. E elas não são bobas, tão nas festa das Patroas E Revoltou! Não quer mais cozinhar, ela só quer fazer amor. Você falou que ela não é pra casar, mas dela não se livrou", canta no hit A Festa das Patroas, um dos seus maiores sucessos. Mas esta decisão de Marília parece ser correta, segundo o êxito obtido em pouco mais de um ano de carreira. E ela provavelmente previu acertadamente que existia uma demanda de fãs no sertanejo que precisava ser representada por esse conteúdo.

Aparentemente, a mulherada cansou de ser retratada nas letras apenas como personagens frágeis ou de objetificação sexual. Para ir contra esse hábito, ela buscou inspiração em outras cantoras imponentes e que nunca esconderam o que sente em suas letras, como Ana Carolina, Maria Gadu e Vanessa da Mata. Mas enquanto a MPB é reduto de um público mais elitizado, os shows de Marília são frequentados por todas as esferas sociais, mas principalmente por mulheres que se enxergam nas letras e na imagem da cantora. Marília não ostenta a cinturinha inatingível de Paula Fernandes e nem o rosto de boneca de Thaeme. É mais acessível e real. Há Marílias nos escritórios e atrás dos balcões das lojas. E ela é humana. Assume que toma uns porres, chora e briga pelo que ama. E se for pressionada pela realidade, não delega à assessoria de imprensa a resolução dos seus problemas.

Ao parar em um hospital após ser diagnosticada com suspeita de pneumonia, ela precisou cancelar dois shows em julho, em Floriano (PI) na quarta (20) e em Acaraú (CE), na quinta-feira (21). No do Piauí, o público se revoltou e destruiu o local. Marília se posicionou nas redes sociais sobre as acusações de que estaria bêbada e se dispôs a pagar do próprio bolso os prejuízos causados pelo seu problema de saúde. "Hoje, eu pegaria cada centavo que já ganhei com tudo isso que pra algumas pessoas deve ser muito fácil dizer. Eu pagaria o dano de vocês. O dano que ainda nem foi publicado e que irá ser reparado, porque se não for pela empresa, eu mesmo assumo", comentou.

Comparado a MC Biel, cantor da mesma idade, a postura e maturidade de Marília se torna ainda maior. Ao ser acusado de assediar uma jornalista, o funkeiro não assumiu o erro e ainda publicou que era "um menino, menino que brinca, menino sem papas na língua, menino que sorri". Marília serve como um antítese deste comportamento e jamais se classificaria como menina. É uma mulher de 21 anos.

Mulher que está ensinando os homens da música pop nacional a não se acomodar, a ter coragem para tomar medidas duras, de se posicionar e dialogar com públicos que precisam ser ouvidos e atendidos. E que assim ela ajude o sertanejo a superar as músicas sobre carros e baladas que mais pareciam jingles de concessionárias e marca de bebida.

Helder Maldonado, Do R7