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Com Ionam

Jovem que teve filho do próprio pai denuncia ameaças

21/10/2016 06h43

Fonte: Diário Digital

Sofia tem 18 anos, um passado de sofrimento em silêncio e um presente de medo. A jovem diz ter sido estuprada pelo próprio pai aos 14 anos, engravidou e teve um filho. Por muito tempo, escondeu a paternidade da criança devido às ameaças do agressor. Há pouco mais de um mês, ela saiu de casa e se abrigou na residência do namorado. Agora, o casal está sendo ameaçado.

A vítima procurou a polícia e pediu medidas protetivas, pois está com medo do pai que teria jurado vingança. A história se passa na periferia de Campo Grande. Sofia é um nome fictício. Sua verdadeira identidade, assim como a localidade onde vive, serão preservadas a pedido da vítima e de amigos próximos que estão aterrorizados diante do comportamento do agressor.

Filha de um serralheiro e de uma diarista, a vítima cresceu em um bairro da Capital, junto com sete irmãos, todos filhos do casal. Quando criança, Sofia apanhava do pai, mas foi na adolescência que conheceu a faceta mais obscura dele. Ela dormia quando seu genitor entrou no quarto e a forçou a manter relações sexuais. Após o nascimento do bebê, o agressor, em duas ocasiões nas quais estava bêbado, abusou novamente da filha. Sofia permanecia em silêncio sobre a situação. Durante um ano, ela ocultou a paternidade da criança. Segundo a vítima, o pai dizia que se revelasse algo, a mãe dela sofreria as consequências. Contudo, diante da insistência da mãe, Sofia relatou os fatos. "Ela ficou muito assustada, mas nada pode fazer, porque ele promete fazer coisas ruins. Minha mãe quer a separação, mas ele não sai de casa", conta. A família passou a tolerar o agressor que assumiu abertamente a paternidade da criança dentro de casa. O menino o chama de pai. "Ele não entende as coisas. Fico com medo de como ele vai se comportar no futuro", diz Sofia sobre o filho que está com ela na casa do namorado.

Na presença da reportagem, o menino brincava feliz debaixo de uma árvore. Sofia deseja realizar um exame de DNA para comprovar que foi estuprada pelo pai. A decisão da filha de sair de casa irritou o genitor que descobriu onde ela estava e foi ao local fazer intimidações, atitude que revoltou familiares e amigos do namorado de Sofia. Diante disso, a jovem procurou a Delegacia de Mulher (Deam), relatou o histórico de violência e a delegada pediu medidas protetivas à Justiça. Conforme as medidas solicitadas, o autor ficará proibido de se aproximar da vítima, de seus familiares e de testemunhas. Também será proibido qualquer tipo de contato.

Segundo a jovem, o pai já teria recebido uma intimação sobre as medidas, por isso, voltou ao local onde a vítima está morando e fez novas ameaças. Familiares e vizinhos do namorado de Sofia procuraram o posto da Polícia Militar da região, mas foram informados que deveriam ir à Delegacia da Mulher. "De que adianta medida protetiva se o agressor não for preso quando descumpri-la?", questionou uma amiga de Sofia que presenciou a confusão causada pelo pai da vítima. Além de temer pela própria segurança, do namorado e dos amigos que a estão ajudando, Sofia sofre pelas irmãs que deixou para trás. Ela suspeita que o pai também tenha abusado das meninas de oito e 14 anos. Além de consumir bebida alcoólica, o agressor também usaria cocaína, segundo a jovem tomou conhecimento por terceiros, já que nunca viu drogas dentro de casa.

Outro lado - A reportagem falou com o pai da jovem por telefone.

Em breve conversa, ele negou que tenha abusado de Sofia ou de qualquer das filhas. "Nunca. Eu não sei porque ela está dizendo esse tipo de coisa", assegura. Segundo ele, o neto seria filho de um antigo namorado da moça que deixou a cidade sem assumir a criança.

O serralheiro disse ter procurado a filha após ela sair de casa porque estava preocupado com a jovem e com o neto que, segundo ele, o chama de "vô". "Ela passou a dormir fora de casa. Não dizia para onde ia. A gente se preocupava (...) Também queria saber do menino pois a gente sempre cuidou dele", alegou, negando ter feito ameaças. Ele nega ainda qualquer tipo de vício e afirma desconhecer as medidas protetivas que a filha pediu à delegada.

O serralheiro também assegura não ter recebido qualquer intimação. A delegada da Deam, Fernanda Félix Mendes, que pediu as medidas protetivas para Sofia explicou que após o registro da ocorrência encaminhou o caso para a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), pois o crime foi praticado quando Sofia ainda era adolescente. Ela não soube dizer se, de fato, o Judiciário já concedeu as medidas. Na DEPCA, a informação é de que o registro da ocorrência já chegou, mas o caso ainda não foi despachado para nenhum delegado, o que deve acontecer em breve e, a partir disso, terá início a investigação.

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